Era dezembro de 2019 quando eu finalmente conseguia tirar férias. Depois de longos 3 anos sem parar um dia sequer.
Lá na praia me sentia diferente. Uma nova fase estava iniciando, eu sentia!
E é claro que iniciava! Eu havia pedido demissão do meu emprego para finalmente empreender e viver do meu sonho: trabalhar com a escrita.
Em janeiro fiz os meus "30" na empresa e lembro como se fosse hoje das notícias alarmantes que vinham de longe: uma estranha doença na China.
"Isso tá longe de nós. É lá na China." tenho certeza que você também pensou isso.
E então, segui a vida.
Fevereiro já estava em home office.
Confesso que estava perdida. Não conseguia seguir uma rotina de trabalho, fazia mil coisas em casa antes de focar no que eu precisava e assim eu ia vivendo.
Até que chegou março.
E naquele momento o bicho pegou de verdade.
A doença que "tava" longe, de repente já estava aqui. Na minha cidade. Perto de mim, dos meus pais, das minhas amigas e dos meus amigos.
E em Abril foi declarado o primeiro Lockdown na minha cidade.
Lembro da sensação de medo, insegurança, incerteza.
Perdi 3 clientes. Eles cancelaram com o desespero de ver suas empresas fechando as portas.
Respirei fundo.
E enquanto organizava um pequeno estoque de alimentos em casa, chorava para que meu marido não saísse.
Mas ele não podia.
Chorava por não lembrar da última vez que havia dado um abraço forte nos meus pais, e perceber que já estávamos há vários dias sem nos vermos pessoalmente.
Vai passar logo. A vacina vem e tudo voltará ao normal.
Eu repetia isso como se fosse um mantra.
Mas não voltou.
Entre maio e agosto de 2020 o que vivenciei foi um looping resumido em: TRABALHO.
Eu entrei em pânico! Era meu primeiro ano empreendendo, não deixaria dar errado!
Comecei a correr atrás de clientes, criei um caminhão de conteúdos, conquistei várias pessoas e no desespero, sem planejamento, fiz parcerias com pessoas que não eram tudo o que eu esperava.
E o resultado foi eu me entulhando de tarefas, entregando orçamento atrás de orçamento, sem tempo nem para olhar para mim mesma.
Em setembro de 2020 cheguei ao meu limite e desabei.
Sumi das redes sociais por um tempo.
Cancelei vários clientes.
Desfiz parcerias e não via mais sentido em tudo o que fazia.
Os relatos estavam cada vez piores.
O medo aumentava porque não havia vacina. Não havia sinal de melhora. Não havia saída.
Me jogar no trabalho teve um preço: minha saúde mental ficou esfacelada.
Mas então, resolvi que eu tinha 3 meses para dar um jeito na vida.
Entre outubro e dezembro tomei uma série de decisões que me ajudaram a respirar novamente.
E então, Janeiro de 2021 prometia um recomeço.
A vida retomava o curso novamente.
Os objetivos estavam lindamente desenhados no Planner.
E então, o segundo golpe: novo lockdown!
Tudo estava se repetindo. E eu? Bem, eu também.
Só que dessa vez eu tinha instalado um "freio de emergência".
E acionei ele agora, durante o mês de abril.
Só nessa semana recebi a notícia de duas pessoas próximas que perderam seus familiares vítimas do Covid.
Em janeiro perdi minha avó - não foi para essa doença e sim por falência dos órgãos -. E em fevereiro perdi um primo que era como um irmão. Vítima de um acidente de carro.
As perdas, a ansiedade, a depressão... tudo isso atua como um buraco negro.
Sugando tudo à sua volta e não permitindo que nenhuma luz fique presente.
Sinceramente estou cansada.
Exausta!
Tanta dor circulando perto cria essa aura de sofrimento.
Tanta gente passando necessidade.
Tanta mãe em desespero sem trabalhar e tendo que cuidar 24h dos filhos sem tempo nem para se olhar no espelho e ver sua beleza natural, pois não há.
Há olheiras, cabelo bagunçado, pele ressecada, e a mente um turbilhão!
Um caos é o que resume nossas realidades.
E para piorar as redes sociais chegam na voadeira com os influencers e gente que já fazia grana antes dessa bagaça acontecer, esfregar na nossa cara "como é simples fazer 6 em 7" "como as Maldivas são lindas" "como eu sou foda e produtiva e dou conta com a minha equipe de 15 pessoas mandando ver enquanto eu viajo".
Não. Está. Tudo. Bem.
Eu sei que você não está bem.
Eu sei que você está cansada.
Eu também estou.
Sinto a dor da perda dos meus amigos, que se despediram dos seus familiares.
Sinto o desespero de quem tá trabalhando 12 horas por dia para conseguir o mínimo para sobreviver.
Sinto a autoestima partindo ao meio ao ver tanta empreendedora, mãe, infoprodutora tentando fazer conteúdos, vender, manter a saúde em dia e não mostrar os surtos nos stories porque ela se compara com alguém que, aparentemente está bem.
Quero que você saiba que eu sinto sua dor.
Eu sinto seu cansaço.
Mas eu não quero te ver desistir.
Faça uma lista com o mínimo que tu precisa fazer nesse momento e não se culpe.
Não está tudo bem não estar bem, mas está tudo bem não se cobrar tanto.
Não exija da sua mente um sistema de indústria 24h por que ela não é.
Não exija do seu corpo uma carga tão grande de horas de trabalho.
Não cobre da sua alma uma personalidade que ela não pode dar.
Eu não quero te ver desistir.
Mas te apoio para você descansar um pouco.
Segura a minha mão e reorganiza teus objetivos.
Sabe aquela meta para 6 meses? Tudo bem se ela for realinhada para 8 ou 10 meses.
Respira!
Nenhum algoritmo vale a tua saúde mental.
Ninguém sente o que tu sente ao deitar na cama todas as noites.
E ninguém pode te chamar de fraca se você gritar: TÔ EXAUSTA, CARALH%! Mas NÃO VOU DESISTIR. Só vou alinhar a rota.
Feche os olhos. Respire fundo e diga mentalmente: eu sou capaz de criar uma nova realidade e vou respeitar o meu tempo, porque o que é meu já está à caminho, eu me permito, eu me aceito, eu me perdoo, eu sou grata! Todos os dias chego 1% perto do que é meu. Farei o que for preciso e levarei o tempo que for. O que vem é mérito e o que vai é amadurecimento.
Espero que esse texto tenha feito sentido.
Porque eu me sinto até leve depois disso.
E mais uma vez: não deixe o caos entrar em você. Se respeite. Respire fundo e faça o que estiver ao seu alcance agora.
Com carinho,
Milene Farias